Um
objeto estranho perturbou a rotina de alguns estudantes da Unicamp neste fim de
outubro. Nos passos apressados, muitos olhares e cabeças viradas; algumas
expressões confusas, poucas aproximações. Das aproximações, as interações e por
fim os sorrisos. Assim foi a intervenção do “Cobaia B”, primeiro objeto
expositivo do projeto. O “cobaia” foi de fato um experimento nosso para
adentrar o mundo da arte urbana e relacional.
Ali,
no meio do caminho, estava a primeira peça de uma exposição, fora de qualquer
contexto artístico ou evento programado e divulgado, sem nenhum cartaz
explicativo, exceto uma tímida plaquinha identificando o projeto e trazendo a
este blog. O tetraedro fazia uma pergunta e aos curiosos convidava a explorar
um novo mundo de idéias. Mas não foi totalmente explícito, nem óbvio. O
experimento era a interação: que resposta teríamos do público com um objeto que
depende do participante para exibir sua mensagem?
De fato, não é comum, nem mesmo dentro de uma
galeria de arte, objetos expositivos que possam ser tocados. Constatamos que
esse tipo de relação está longe da convenção cultural, pelo menos no
ambiente onde foi testado. No geral, aprendemos a "não tocar",
"não pisar" e os locais públicos estão cheios de proibições. Era
preciso, desta forma, um interesse inicial dos transeuntes e um atrevimento
para sair por alguns momentos da rotina e abrir-se a novos pensamentos.
Esta obra trata do insight que Fuller relata ter tido num momento de decadência pessoal e que teria iniciado e guiado o trabalho de toda sua vida. “Qual o potencial de um único indivíduo na evolução da humanidade?” é uma pergunta que pode resumir o experimento do Cobaia B.
Veja aqui a obra “Cobaia B” por dentro:
Buckminster
Fuller observou grandes falhas no sistema econômico, no sentido da eficiência
para a qualidade de vida de toda a população. Foi aí que disse que alguém
poderia “ou fazer dinheiro, ou fazer sentido”. Isto porque a forma como a
sociedade está organizada em termos do uso de recursos de fato não faz nenhum sentido, pois há uma grande quantidade de competição, miséria e
sofrimento completamente desnecessários.
O intelecto humano pode projetar soluções para muitos de nossos problemas globais. A capacidade de
pensar e solucionar problemas é uma característica particularmente humana, e
por esta razão talvez seja o ponto onde se manifesta o fracasso da sociedade
diante de um potencial não utilizado. Fuller decidiu trabalhar, então, para
fazer o mundo funcionar para 100% da humanidade, no menor tempo possível,através de cooperação espontânea,sem dano ecológico e sem prejudicar ninguém
Uma ousada e nobre missão. Mas por onde começar? Política
não poderia ser. A experiência o havia
mostrado que política era baseada em medo e ignorância, era estruturalmente
desonesta e inefetiva a longo prazo. Política sempre tenta derrubar os que
estão no topo ao invés de levantar os que estão embaixo. “Política sempre
termina em armas”, ele disse. Mera reforma não funcionaria. Uma nova forma, talvez.
Sua alternativa
à política era radical e profundamente subversiva. (...) a natureza deve ter fornecido o
suficiente de tudo necessário para todos viverem uma existência saudável.
Pessoas vivendo bem teriam pouco interesse em guerras e destruição. Ele decidiu
que informação confiável e design eficiente poderiam identificar e amplamente
distribuir os recursos da Terra, trazendo uma boa vida para todos. Desenvolver
essa informação e colocá-la em prática seria a missão do Cobaia B.*
Daqui em diante, começamos de fato a mergulhar no universo
de idéias que surgiram e se desenvolveram a partir desta missão. Boa viagem!
Texto em itálico: tradução livre de Baldwin, J. Bucky Works – Buckminster Fuller Ideas for Today. Wiley, 1996, pag.8.